
ESPECIAL / EUROTRIP
Mundo de hoje parece vagamente com o de 2017
No segundo texto da série, jornalista comenta o que anda mudando no mundo e no turismo europeu







Texto 1: É temporada turística, mas não atire neles
Depois de 15 anos viajando como um aspirante a James Cook, agora eu não saía do país desde 2017, e o mundo daquele ano tem só um vago parentesco com o de 2025.
Era um mundo ainda sem guerra da Ucrânia, genocídio em Gaza, pandemia de Covid-19, big techs oficialmente alinhadas com a extrema direita e um Trump II cujas políticas anti-imigratória e de implosão da ciência e das universidades fazem de Trump I quase um escoteiro. Enquanto esse material era produzido, Israel e EUA declararam guerra ao Irã.
Alguém um pouco mais atento também lembraria que o planeta aqueceu bem mais nos últimos oito anos que nos oito anos anteriores.
Como isso tudo se refletia nas viagens? O conflito na Ucrânia ainda reverberava no cotidiano dos europeus? A mescla de nacionalismo xenofóbico e o aumento de pedidos de asilo na União Europeia – que depois de recordes em 2015 e 2016 caíram, mas desde 2022 voltaram a se aproximar do auge – aumentavam a pressão de uma panela prestes a estourar? E a irritação das pessoas marinando no suor causado por picos históricos de temperaturas? Era verdade que um almoço comum estava quase 30 € por pessoa?
Mais concretamente: o que o agente de controle e imigração acharia do meu passaporte tropical azul virgem de carimbos? Tirei os anteriores, empoeirados, da gaveta, cheios de entradas e saídas justamente na Espanha, e só não levei uma papelada comprovando que morei e estudei em Madri em 2013 e 2014 porque achei um pouco paranoico.
Outras coisas: enquanto eu me preparava para viajar se falava muito no Etias, um sistema eletrônico de autorização de viagem para 33 países europeus que está para entrar em vigor, assim como em novas taxas de turismo cobradas Europa afora.
Foi em parte graças a uma nova taxa que eu e minha noiva vimos apartamentos inteiros em Barcelona a partir de R$ 2.700 cinco diárias (ignorando os sombrios, minúsculos ou quase fora da cidade), mas, não tendo feito a reserva, meses depois pagamos R$ 2.500 por apenas um quarto em um apartamento com banheiro de uso compartilhado.
A maior parte do tempo eu não tinha cada preocupação dessas separada na cabeça, e sim o simples sentimento de que viajar estava se tornando algo muito duvidoso.
Para minha surpresa, na minha viagem não escapei de alguns preços muito inflacionados, mas tive a sorte de percorrer uma Europa parecida com aquela de uma década antes.
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