
ENTREVISTA
Flávio sugere que candidato de Bolsonaro deve topar golpe
Um dos pré-candidatos que busca o apoio do ex-presidente Ronaldo Caiado. Ele toparia?

"Vai ter que ser alguém na Presidência que tenha o comprometimento, não sei de que forma, de que isso seja cumprido" | Foto: Reprodução | Montagem: O Segmento
O senador Flávio Bolsonaro (PL), filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo, na última semana, que o nome que receberá o apoio do pai à presidência deve topar um golpe. Não com essas exatas palavras, mas ele afirmou: "Não só vai querer apoiar alguém que banque a anistia ou o indulto, mas que seja cumprido. Porque a gente tem que fazer uma análise de cenário também de que, na hipótese de o presidente dar um indulto para Bolsonaro, o PT vai entrar com um habeas corpus no STF. [Vão declarar que] é inconstitucional esse indulto. Então, vai ter que ser alguém na Presidência que tenha o comprometimento, não sei de que forma, de que isso seja cumprido."
Ele completou: "É uma hipótese muito ruim, porque a gente está falando de possibilidade e de uso da força. A gente está falando da possibilidade de interferência direta entre os Poderes. Tudo que ninguém quer. E eu não estou falando aqui, pelo amor de Deus, no tom de ameaça, estou fazendo uma análise de cenário. É algo real que pode acontecer. Bolsonaro apoia alguém, esse candidato se elege, dá um indulto ou faz a composição com o Congresso para aprovar a anistia, em três meses isso está concretizado, aí vem o Supremo e fala: é inconstitucional, volta todo mundo para a cadeia. Isso não dá. Certamente o candidato que o presidente Bolsonaro vai apoiar vai ter que ter esse compromisso, sim."
O "uso da força" contra uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) é encarada por especialistas como um ato antidemocrático. Flávio deixou muito claro que um candidato só terá a bênção de seu pai, caso garanta que ele seja perdoado, independente da pena. Ele mesmo confessa que está falando de uma "interferência direta entre os Poderes".
Para o advogado criminalista Paulo de Castro, a declaração vai além de uma simples opinião. "É uma movimentação estratégica que sugere desconfiança nas instituições e prepara o terreno político para resistir à decisões do STF, caso medidas como indulto ou anistia a Jair Bolsonaro sejam contestadas." Para ele, ao levantar a hipótese de não cumprimento de decisões judiciais, seu discurso tensiona a relação entre os Poderes e representa um risco real à estabilidade do Estado Democrático de Direito. "É uma fala polarizada que, novamente, instiga uma resistência em tom não pacífico."
Entre os nomes que buscam o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro estão os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); e do Rio Grande do Sul, Ratinho Júnior (PSD). Todos já tiveram em cima de carros elétricos, pedindo anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O goiano Ronaldo Caiado ao Roda Viva da TV Cultura, no começo de junho, já afirmou que, se eleito, daria uma “anistia ampla, geral e irrestrita” tanto para os réus que participaram das invasões às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 quanto para os acusados de promover uma tentativa de golpe de Estado. "Meu primeiro ato, se for eleito presidente da República, vai ser exatamente assinar a anistia a todos. A partir de agora, vamos discutir um outro momento na vida política nacional. Chega desse assunto. Acabou esse assunto." Ainda segundo ele, a "decisão do Supremo não é soberana" e "a Constituição brasileira dá ao presidente essa prerrogativa".
A questão é: ele iria longe o suficiente para mandar, por exemplo, interditar o STF? Vale a pergunta a para a próxima entrevista do governador Caiado.
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