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SOBERANIA

Em Goiânia, Lula manda recado a Trump: 'Não é um gringo que vai me dar ordem'

Presidente, que participou de Congresso da UNE, também se reuniu com sobreviventes de acidente na BR-153, em Porangatu

Francisco Costa
Goiânia | 17/07/2025

Lula no Congresso da UNE, em Goiânia | Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou, nesta quinta-feira (11), do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Na ocasião, o petista comentou sobre o anúncio de tarifaço de 50% nos produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além da exigência do norte-americano de parar o que chamou de perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Sob aplausos, Lula afirmou que "não é um gringo que vai me dar ordem". E ainda: "O Brasil tem 201 anos de relações diplomáticas com os EUA, déficit comercial de 410 bilhões em 15 anos. É por isso que a gente não aceita a ideia de o presidente mandar uma carta dizendo que, se não soltar Bolsonaro, vai impor taxa de 50%. Não aceitamos que ninguém se meta nos problemas internos, que são dos brasileiros”, afirmou.

Ainda segundo Lula, "Trump disse que não quer que as empresas de plataforma sejam cobradas no Brasil. O mundo tem que saber que esse país só é soberano porque o povo tem orgulho do Brasil. A gente vai julgar e cobrar imposto das empresas digitais. Não aceitamos que, em nome da liberdade de expressão, pratique-se ódio, violência contra crianças, mulheres, negros e LGBTQIA+. O dono do Brasil é o povo brasileiro".

Em outro momento, o petista ainda reforçou que o Brasil não vai recuar no dever de julgar Bolsonaro. O ex-presidente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. “Nós vamos tomar a bandeira verde amarela, que vai voltar a ser do brasileiro. O Bolsonaro que transfira seu título de eleitor para lá e se abrace com a bandeira dos Estados Unidos.”

Luto

Também durante o congresso, o presidente lembrou do acidente que vitimou cinco pessoas na BR-153, em Porangatu. Três estudantes e um motorista que se deslocavam do Pará para o evento da UNE morreram, além do motorista de uma carreta que se chocou contra o micro-ônibus em que eles estavam. Lula chegou a se reunir, antes do evento, com os alunos sobreviventes da tragédia. 

Na ocasião, os estudantes também apresentaram demandas ao presidente. Confira na íntegra: 

"Bom dia, Presidente Lula!

Aqui estamos, no 60° Congresso da União Nacional dos Estudantes, e aqui estão reunidos estudantes dos 27 Estados, desse país de dimensões continentais, porque acreditamos no Brasil, na democracia e na educação. Antes de nós, estiveram aqui gerações que lutaram contra o nazifascismo, que construíram a campanha da Legalidade com Jango, lutaram por democracia em plena ditadura. Aqui estão jovens que ingressaram na universidade pelo Reuni, pelo Prouni e pelas cotas, uma luta dos estudantes ouvida durante seus primeiros governos. Aqui estão gerações que resistiram ao Bolsonarismo e construíram os Tsunamis da educação. É por todo esse legado de lutas, simbolizados por essa camisa azul com o mapa do nosso país, que dizemos que a UNE é uma grande prova de amor ao Brasil.

Presidente, nós acreditamos que estamos diante de um momento singular na história. Há uma nova escalada da ofensiva do Império sobre o nosso país, e são nesses momentos que o papel dos estudantes se agiganta. Queremos dizer que, diante das ameaças e chantagens do presidente dos Estados Unidos, nós erguemos alto nossa bandeira do anti-imperialismo e de defesa da nossa soberania.

Nós sabemos do potencial e do papel estratégico que o Brasil pode jogar no mundo. Uma nova ordem multipolar está nascendo. O BRICS coloca em questão a hegemonia global. Não é coincidência que o anúncio do tarifaço de Donald Trump tenha ocorrido após a cúpula dos BRICS realizada no Rio de Janeiro, que colocou no centro das suas deliberações a desdolarização da economia global. É esse Brasil, que tem um papel fundamental na solidariedade e integração latino-americana e do Sul Global, que hoje é alvo de Trump.

Temos em nosso país uma extrema-direita, lacaia, entreguista, violenta, anticiência, e que tramou um golpe de Estado contra a vontade do povo, e que agora precisa ser devidamente punida. Não podemos cometer o mesmo erro da Ditadura, que deixou impunes aqueles que cometeram crimes de Estado. Bolsonaro precisa sair dos bancos dos réus direto para a prisão e, junto com ele, todos aqueles que atentam contra o Estado Democrático e lesam nossa Pátria.

É preciso enfrentar essa extrema-direita no Brasil com uma agenda que coloque o rico no imposto de renda e o pobre no orçamento. Por isso, a taxação das grandes fortunas, a isenção de imposto de renda para os mais pobres, o fim da escala 6×1 que tanto nos tira a dignidade, são pautas urgentes para o povo brasileiro. Diante da pressão das elites e de parte do Congresso compromissado com os 1% mais ricos, conte com os estudantes e com o povo brasileiro para construir luta e maioria social em torno dessas bandeiras.

Nós da UNE, UBES, ANPG, junto com o MST, MTST, CUT, CTB e demais centrais sindicais, temos nos desafiado a construir o Plebiscito Popular, que é mais que uma consulta: é um instrumento de disputa de consciência do povo diante dessas pautas. Nas próximas semanas, as universidades, escolas, postos de saúde, portas de fábricas e comércios estarão com urnas populares para o povo dizer que quer que os ricos paguem impostos, que os pobres recebam isenção e que a jornada de trabalho tenha o mínimo de dignidade.

Presidente, nós, estudantes brasileiros, queremos esperançar. Com a vitória do projeto popular em 2022, inauguramos uma agenda de reconstrução da educação. Conquistamos a renovação da lei de cotas, a aprovação do PNAES como lei, o PAC para retomar as obras paradas nas universidades, o marco regulatório do EaD, a construção de novos Institutos Federais. Mas, depois de anos de desmonte e ataques à educação, precisamos de mais avanços. Não podemos conceber um projeto de país que coloque regras tão rígidas, como as do arcabouço fiscal, no orçamento da educação. Pelo contrário, é necessário avançar na autonomia universitária, garantindo um orçamento fixo para as universidades federais, para que essas instituições não fiquem na instabilidade e com o pires na mão diante das crises.

Avançar na regulamentação do PNAES, para que os estudantes tenham bolsa permanência e restaurante universitário. Criar o INSAES para colocar um fim no capital estrangeiro na educação, que quer lucrar com a mensalidade em detrimento da qualidade. Educação não é mercadoria para estar na bolsa de valores e os estudantes não são código de barras.

Precisamos também de um plano emergencial para licenciaturas. Corremos o risco de ter um apagão de professores na próxima década, e não há país de futuro sem professores. O Brasil tem formado cada vez menos engenheiros, é preciso um plano que conecte a educação com áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional. São muitos os desafios da educação superior e nós elencamos todas as pautas em um projeto amplo de reforma universitária, aprovado no Conselho de Entidades de Base da UNE, que vamos lhe entregar.

A educação é um importante instrumento para que o nosso país se realize como nação soberana e desenvolvida. Ainda temos um longo caminho a percorrer para superar as nossas mazelas e desigualdades históricas. Não há como pensar em um Brasil do futuro com a educação, ciência, saúde e os direitos sociais dentro do arcabouço fiscal. Para vencer a extrema-direita das fake news, da concentração de renda e da destruição, precisamos retomar o papel do Estado, apontando amplos investimentos nessas áreas e travando a batalha ideológica com o povo.

Presidente Lula, os desafios são muito grandes. Nossos inimigos são poderosos e sem escrúpulos, colocam os lucros acima da vida. Mas já diria o poeta mineiro, Guimarães Rosa, que “o que a vida quer da gente é coragem”, e nós, presidente, somos o povo brasileiro. Um povo que não se dobra. Um povo que já travou tantas lutas e batalhas para ter o direito de escrever a nossa própria história.

Não somos um povo submisso, somos o povo da coragem e da solidariedade internacional. Da luta e da festa. Da alegria e da resistência. Do futebol e da revolução. É na luta e na rua que a gente se encontra para construir um país do tamanho dos nossos sonhos. E é com a diversidade de sotaques presente nesse plenário que vamos cantar bem alto: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor.”

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Tags: Lula UNE Goiânia
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