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ARTIGO

Dai a César o que é de César… E o que sobra para o povo?

A história dos impostos no Brasil é tão antiga quanto a própria colonização

Clodoaldo Moreira
Goiânia | 25/08/2025

Uma frase que ecoa através dos séculos, proferida em um contexto de questionamento sobre a legitimidade da tributação | Foto: Pixabay

Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Uma frase que ecoa através dos séculos, proferida em um contexto de questionamento sobre a legitimidade da tributação. Em sua essência, ela sugere uma separação clara entre as obrigações terrenas e as divinas, um reconhecimento da autoridade secular, mas com um limite implícito. No entanto, em terras brasileiras, essa balança parece pender cada vez mais para um lado, e o que se tem dado a César, ou melhor, ao Estado, tem se tornado um fardo pesado demais para os ombros do cidadão comum.

A história dos impostos no Brasil é tão antiga quanto a própria colonização. Desde o dízimo do pau-Brasil até as complexas teias tributárias de hoje, o Estado sempre buscou sua fatia. Mas o que antes era uma contribuição para a manutenção da ordem e o provimento de serviços essenciais, transformou-se, aos olhos de muitos, em uma voraz máquina de arrecadação, que parece insaciável. A carga tributária brasileira, que em 2024 atingiu patamares recordes, beirando os 34% do PIB, não é apenas um número; é a materialização de uma parcela significativa do esforço e do suor de cada trabalhador, de cada empreendedor, de cada família. É o dinheiro que sai do bolso do cidadão para, em tese, retornar em forma de serviços públicos de qualidade, infraestrutura e segurança. Mas será que essa equação tem se mostrado justa?

O cerne da questão reside na contrapartida. Se damos a César uma parcela tão expressiva de nossa riqueza, esperamos, com razão, que César nos retribua com um mínimo de dignidade. Esperamos hospitais que funcionem, escolas que eduquem, segurança que proteja e estradas que não destruam nossos veículos. No entanto, a realidade muitas vezes se choca com essa expectativa. A saúde pública agoniza, a educação padece de investimentos e qualidade, a segurança é uma quimera para muitos, e a infraestrutura, em grande parte, é precária. A sensação que permeia é a de que o sacrifício fiscal do cidadão não encontra eco na melhoria de sua qualidade de vida. Pelo contrário, a cada novo aumento de imposto, a cada nova alíquota, a cada nova contribuição, a balança da justiça parece se desequilibrar ainda mais.

Essa distorção entre o que se dá e o que se recebe gera não apenas frustração, mas também um sentimento de impotência. O cidadão se vê encurralado, obrigado a ceder uma parte cada vez maior de seus rendimentos, sem vislumbrar um retorno proporcional. Isso afeta diretamente o poder de compra, a capacidade de investimento, a geração de empregos e, em última instância, o desenvolvimento do país. Pequenos e médios empreendedores, que são a espinha dorsal da economia, muitas vezes sucumbem sob o peso da burocracia e da alta carga tributária, inviabilizando seus negócios e sonhos. A frase "imposto em cima de imposto", proferida por figuras públicas e ecoada nas redes sociais, não é um mero jargão; é a tradução de uma realidade que sufoca e desestimula.

Talvez seja hora de repensar o que realmente é de César e o que, por direito, deveria permanecer com o cidadão. Não se trata de negar a importância dos impostos para a manutenção do Estado e a provisão de serviços públicos. Trata-se de questionar a proporção, a eficiência e a transparência na aplicação desses recursos. É preciso que a balança se reequilibre, que a arrecadação seja acompanhada de responsabilidade fiscal e de um compromisso genuíno com o bem-estar da população. Porque, no final das contas, se o que é de César se torna um fardo insuportável, o que resta para o cidadão? E o que resta para Deus, senão a fé e a esperança de que um dia, essa balança se ajuste e a justiça prevaleça?



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